Amadores usam piano deixado no hall da Caixa Cultural
— Nunca tinha nem visto um piano. Foi uma surpresa. Na primeira vez, não toquei, porque achei que o local era privado. Depois voltei lá, passei em frente, entrei e perguntei se podia usar. Quando disseram que era público, fiquei muito empolgado. Agora, sempre que posso vou lá — recorda-se o morador de Parada Morabi, em Duque de Caxias.
Criado só pela mãe, Lucas sempre estudou em escolas públicas de Caxias e nunca foi apresentado ao clássico. Não sabe tocar Beethoven, Mozart nem Villa-Lobos. Quando senta-se diante do piano de cauda, arrisca um repertório mais simples, como cantigas de roda e algumas canções cujo nome ele nem sabe.
— Toco geralmente as coisas que eu invento da minha cabeça. Eu já compus umas 31 músicas. Mas toco umas infantis, canções de ninar e algumas da trilha sonora de um jogo, “Song of storms”. Não tenho preocupação em tocar nada que alguém reconheça, nem de agradar. Eu gosto mesmo é de tocar. Fico feliz com isso — diz ele, que, com o pé no chão, pensa em cursar faculdade de Administração para conseguir se sustentar e, quem sabe, pagar aulas de piano.
Apesar de não estar à procura de reconhecimento, Lucas coleciona histórias de interação com o público. Depois de um dia de trabalho pesado, ele se diverte contando para a mãe, a dona de casa Nádia Maria, as reações da sua “plateia”.
— Um dia eu estava tocando e vi na minha frente um mulher com duas bolsas. Teve uma hora que ela começou a fazer passos de balé, fechando os olhos, sentindo a música. Uma outra vez, uma menina começou a dançar, sorrindo, e deitou-se no chão. E teve também duas mulheres que começaram a chorar e vieram me dizer que estavam emocionadas. Mas teve um cara que me deu R$ 2, dizendo que eu tocava muito bem. Já me aplaudiram várias vezes. Isso me motiva a continuar — diz ele, que sonha levar a mãe para conhecer o famoso piano.
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